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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Killing Fields, Cambodia

É um local sossegado e calmo. Inicialmente, parece um jardim imenso, coberto de relva, ouvem-se os pássaros, milhares de borboletas esvoaçam.


Cruzando o portão de entrada, um caminho cinzento, parecido com uma calçada, bordejado pelo verde da relva que domina todo o local leva directamente ao Memorial, uma stupa budista.Do lado direito deste, uns metros à sua frente encontra-se um pequeno museu.
Espalhadas um pouco por todo lado, árvores derramam a sua sombra. Pequenos trilhos bem definidos permitem a circulação das pessoas por toda a área.
Observo que o verde da relva é manchado por inúmeras depressões de tamanhos variáveis, que agora são poças de água barrenta de terra. Estamos no final da estação das chuvas.
Um guia ali perto avisa "Não sair fora dos trilhos, são valas comuns". Acrescentando "ainda existem pessoas enterradas ali".


Com estas palavras, rompe-se definitivamente com a aparência pacífica e tranquila do local. Ao fim e ao cabo estou num centro de extermínio, o mais conhecido dos "killing fields" do Camboja: Choeung Ek.
Como todos os locais tocados pelos Khmers Vermelhos, tem um passado brutal, hostil e cheio de dor.
Situado a cerca de 15 km a sul de Phnom Penh, este "killing field" era alimentado pela prisão de Tuol Sleng.
De lá, vinham os mortos que já não tinham espaço para serem enterrados no pátio, vinham os moribundos para acabarem de morrer e os vivos para serem executados.
Os prisioneiros chegavam a este centro de extermínio de camião. Vinham atados e de olhos vendados. Saíam do camião e eram encaminhados para as valas comuns. Ajoelhavam virados para elas, os guardas batiam-lhes na cabeça e caiam sobre a vala. Faziam isto em série. Dia após dia, durante anos
.
                                                                                                                                                
Para impedir a propagação de doenças e simultâneamente acabar de matar os moribundos, espalhavam DDT sobre os corpos caídos. Com a continuação das explicações do guia, o espaço verde onde me encontro, fica na minha mente tingido de sangue. As árvores perdem a sua inocência para se tornarem utensílios de morte e tortura. Chamam-lhes as "killing trees". Encaminho-me para uma delas. Tem um letreiro em inglês onde se pode ler : "árvore onde os carrascos espancavam as crianças". Sob a protecção dos seus ramos vê-se um memorial. Um pouco mais à frente um pequeno recinto delimitado com uma pequena cerca de madeira. Encontro outro letreiro : "local onde estão enterradas pessoas sem cabeça".


Neste local as crianças eram retiradas às mães que as seguravam e protegiam, eram atiradas contra a árvore ou esmagadas contra ela. Ou atiradas ao ar e eram apunhaladas na queda. As mães assistiam à sua morte, e depois por sua vez, elas próprias eram espancadas e mortas por decapitação, com machados.
Outra árvore. Os prisioneiros eram amarrados e espancados até à morte. O método preferido pelos Khmers Vermelhos que não queriam desperdiçar as preciosas e caras balas. Usavam bastões, pás, machados, barras de ferro, troncos e facas. Muitos dos crânios mostram claras evidências de perfurações.




Ainda uma outra. O seu letreiro diz que um altifalante era pendurado com música alta. Canções da revolução khmer. O seu objectivo era sobrepor-se aos gritos e gemidos dos que morriam nas valas comuns para que as pessoas que trabalhavam no cultivo de arroz nos campos adjacentes não suspeitassem do que estava a ocorrer.

A caminho do Memorial, o guia faz uma última paragem para falar sobre os restos mortais numa área igualmente delimitada. O letreiro informa que se tratam de ossadas e dentes.
 

Ainda nos dias de hoje continuam a aparecer restos mortais. É o tempo a fazer o seu trabalho. O sol e as chuvas fortes vão erodindo o solo, trazendo ao de cima, ossos, dentes e alguma roupa. Destacam-se do castanho da terra pela brancura que exibem.

O Memorial, uma stupa budista foi construído entre 1988 e 1989. As stupas, segundo a crença budista são estruturas sagradas. Templos ou parte de um monumento, em forma de torre que pode ser abobadada ou semi-esférica, que contém restos mortais de um individuo, normalmente alguém importante, de uma família ou de um colectivo.
Neste caso, é uma homenagem às cerca de 17 mil vítimas assassinadas em Choeung Ek. Expõe numa coluna central que se ergue até ao topo do monumento e ocupando praticamente toda a área interior, simbolizando o eixo do mundo, cerca de 9000 crânios de vítimas da atrocidade inaudita dos Khmers Vermelhos.




No seu pico, "a produção de morte" de Choeung Ek, chegava a atingir cerca de 300 execuções diárias. Nem sempre os carrascos conseguiam dar conta "do recado". Incrivelmente, por isto, muitos deles foram presos por traição e falta de lealdade ao regime e posteriormente executados.

 

Pela segunda vez neste dia, saio de olhos húmidos de um recinto. E pela segunda vez, uma pergunta insiste em não ter resposta: porquê ?!

7 comentários:

  1. It was an horrible existence. Just thousands of people died, for what? Great camera works.

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  2. Ih...pois não deve ter sido nada fácil.Sítio 'carregado' de muita energia de sofrimento.
    Post muito bem explicado.
    Abracinho
    <3

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  3. Inexplicable, no entiendo esa barbarie humana en la que se mata a semejantes porque sí, sin una explicación, niños, mujeres, ancianos, hombres muertos por pensar, leer, escribir o meditar diferente a ellos, esos gritos del silencio de Camboya, hoy has traído un post para pensar y recordarlo y no volver a cometer errores como estos, aunque la historia está plagado de ellos, aquí en mi país también hubo una época así... terrible. Un enorme beso y es bueno recordar para no volver a realizar.

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  4. Thanks for your comment on my blog! Yours is also very good!
    Nice photos in this post.
    Have a nice day!

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  5. Eis a prova viva de que nem tudo o que se vê o é. Realmente o que aparentemente é belo torna-se numa realidade sórdida, ao que nós seres humanos chegamos, dá para perguntar o porquê de tamanha barbaridade, e como é possivél alguém executar tal acto, repit de barbaridade mas principalmente de COBARDIA, estou a escrever e sinto-me com um ná na gargaranta, a saliva escorre pela boca, sinto-me inojado. Nem sei que dizer um muito obrigado por denuciares estas situaçãoes que por vezes nos passam ao lado, porque é mais fácil nem olhar para assim não termos de dizer nem fazer nada.
    Um Abraço Carlos Freitas

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  6. De facto o porquê é algo que me escapa também...

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  7. Interesting places....good pictures

    greetings, Joop

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