Hoje a saudade bateu-me à porta!
A madrugada acabara de se anunciar, fria e chuvosa, quando ouvi o seu toque a quebrar o silencio.
Apressei-me a abrir.
Vinha envolta num manto cinza debroado a Fevereiro.
Carregava uma mala cheia de chuva, frio, nostalgia e tristeza.
Pediu-me para entrar e, eu, resignada, deixei-a.
Sentadas junto à lareira, com uma taça de vinho quente nas mãos,
Falei-lhe dos que perdi,
Dos que estão longe,
Dos que amei, e dos que amo.
Contei-lhe dos tempos despreocupados de infância,
Do aconchego do colo da minha mãe,
Das longas conversas ao serão com o meu pai.
Relatei-lhe o calor e o cheiro do mato de que tanto gosto,
As risadas e brincadeiras com os amigos,
Os momentos com a minha filha quando era pequena e precisava de mim.
Chorei os meus “filhos” que deixei para trás pedindo para eu ficar
Um amor que amei e que perdi.
Depois fomos juntas ver o mar e eu falei-lhe do quanto me era especial desfrutar das ondas encrespadas a embater contra as rochas, dos salpicos salgados que me escorrem pelas faces lembrando lágrimas quentes, do cheiro das algas apodrecidas na areia.
Vagueámos pelo areal e eu contei-lhe o quanto é difícil circular na Vida e do quanto ela nos impõe e tira...e por vezes também nos dá..
Almoçámos à beira-mar, um rodízio de Amizade e brindámos com Maresia de reserva.
A tarde já ia longa, recomeçara a chover...as lágrimas do céu. Regressámos a casa.
A saudade despediu-se, mas com a promessa de voltar. Pedi-lhe para deixar a porta encostada.
Pode ser que venha aí a Esperança... e essa não precisa de se anunciar.